Verdadeiros amigos....

11/07/2012 01:13

            Como fiquei extremamente abalado ao receber meu diagnóstico positivo para HIV, eu não queria ficar sozinho em casa, então resolvi ir até a casa de uma amiga. A princípio eu pensei em não contar sobre o diagnóstico, queria manter sigilo total, mas não consegui.

            Quando cheguei em sua casa, estava com os olhos inchados e vermelhos acompanhados de um semblante terrivelmente abatido. Muito assustada ela me perguntou o que estava acontecendo, porque eu estava naquele estado. Eu não disse nada e em prantos de choro pedi apenas um abraço, era só o que precisava naquele momento.

            Após um forte abraço, fomos até seu quarto onde ela sugeriu que eu sentasse e contasse o que estava acontecendo. Eu resisti, não estava disposto a falar, porém ela conseguiu me convencer. Como se fosse necessário um ato de coragem, disse rapidamente: “Fiz um teste de HIV e deu positivo”. Foi notável o susto que ela tomou, claramente percebi como se sentiu desconcertada. Sabendo que eu precisava de um apoio naquele momento, ela tratou de se recompor e disse: “Calma! Não fique assim, viver com HIV é possível. Ser soropositivo não quer dizer que você ira morrer ou ficará com cara de doente, tudo nesta vida tem um jeito, e se não tiver nós damos! Fique tranquilo, e conte-me o que realmente aconteceu...”.

            Ela soube contornar a situação muito bem! De certa forma eu me senti mais aliviado, percebi que busquei ajuda com a pessoa certa senti mais confortável para contar sobre o que realmente havia acontecido. Depois de lhe contar os fatos, ela reafirmou as palavras de carinho e amparo e entregou-me uma toalha, sugerindo que eu tomasse um banho, para refrescar o corpo e a mente. Aquele banho foi muito revigorante! Era como se a água levasse junto parte da minha tristeza.

            Passamos ainda algum tempo conversando sobre o HIV, ela me indicou que procurasse um psicólogo, e buscasse informações sobre a doença. No inicio eu não queria nem pensar em psicólogo, não achava necessário, mas com o tempo deixei de ser “cabeça dura” e aceitei a ideia. Ter ido conversar com minha amiga foi ótimo, ela conseguiu me acalmar, mas eu precisava ir embora. Aquela altura meu namorado havia me mandado algumas mensagens dizendo que ele tinha ido ao CTA, realizado o teste rápido e seu resultado também foi reagente e que se eu quisesse eu poderia ir para sua casa, passar aquela noite com ele.

            Segui para minha casa, deitei na cama e fiquei pensando na vida. Como seria dali pra frente. O que aconteceria comigo? Acreditava que minha vida social, amorosa, sexual e profissional estava condenada. Não me recordo ao certo o que aconteceu aquele momento, lembro que chorei baixinho, em meu canto, mas em pouco tempo já estava na casa do meu namorado.

            Lá conversamos muito. Eu temia que ele me abandonasse, temia ficar muito doente e morrer jovem, porém o que mais me doía era pensar que ele poderia saber de sua sorologia e não quis me contar. Inúmeras vezes eu o perguntei sobre isso, e ele sempre me disse que não, que jamais seria capaz de cometer tamanha canalhice. Hoje, eu posso falar de coração aberto que eu acredito nele. Apesar de ele ter superado tudo isso muito mais fácil que eu, eu sei que não foi fácil pra ele, e sei também que nosso amor é recíproco, ele não faria isso comigo. Reconheço que se hoje eu posso contar esta história sem chorar, é graças aos meus verdadeiros amigos, e principalmente a ele que foi e é, meu maior alicerce.

            De certo modo o HIV nos uniu. Ficamos mais íntimos, mais cuidadosos um com o outro, mas nem por isso tudo ficou bem do dia para noite. Perdemos muitas noites de sono, pensando em tudo que estava acontecendo. O arrependimento é a pior sensação. Lembrar-se de todas as vezes que ouvíamos uma campanha sobre HIV e não dávamos importância, e que tudo isso poderia ser evitado a partir de um simples ato, como usar a camisinha, faz com que nos sentimos uns verdadeiros idiotas!

            Mas lamentar não resolve o problema, temos que seguir de cabeça erguida, com vontade de viver, só assim encontraremos a paz e deixaremos de nos reprimir.  

A todos que passam por situação parecida, tenham fé, força e coragem. Somos responsáveis pelo que acontece conosco, mas também somos capazes de corrigir nossos erros e vivermos felizes.  Abraços a todos!