Vida corrida, quem não têm?
Pois é, a cada dia que passa está ficando mais difícil atualizar este blog como eu realmente gostaria. Conseguir um tempinho, por menor que seja, para responder os e-mails e postar notícias, tem ficado complicado, manter os textos atualizados então, nem se fale. Mas mesmo assim não vou desistir de manter o site. Mesmo que fique um pouquinho parado, tenho certeza que muitas pessoas frequentam aqui diariamente e gostam do conteúdo. Então sempre que possível, vou vir dar o “ar da minha graça...”, (risos).
Quem acompanha o blog sabe que eu faço meu acompanhamento médico pelo SUS para evitar que meus pais tenham conhecimento sobre minha sorologia a partir dos extratos do plano de saúde. E como no SUS, não temos muitas opções de escolha, às vezes fica muito difícil marcar consultas e exames para as datas que são convenientes a mim. Sendo assim, há 15 dias (18/01/13), resolvi ir até o SAE tentar uma desistência com meu médico. Por sorte consegui, porém fui informado que o médico que estou habituado a consultar estava de férias e, portanto deveria consultar com outro. Não me importei afinal minha intenção com aquela consulta era apenas solicitar o pedido dos exames de CD4, CV e uma receita do remédio que faço uso desde que descobri minha infecção pelo HIV (SERTRALINA).
Eu era o sétimo paciente daquela manhã, logo pensei que fosse rápido como de costume. Mas me enganei, foi MUITO demorado. O médico que estava cobrindo as férias era extremamente atencioso com os pacientes, conversava e explicava tudo em detalhes, portanto demorei a ser atendido. Minha sorte é que havia um livro em minha mochila...
Ao chegar minha vez, caminhei para o consultório pensando “Não vou ficar de papo, estou com pressa”, mas mesmo com a decisão tomada não deu muito certo. O médico realmente foi bastante atencioso. Fez questão de perguntar todo meu histórico, como estou psicologicamente e entre outras coisas que são de praxe. Ele deu uma “passada de olhos” sobre minha ficha e disse que talvez já estivesse na hora de começar a pensar no coquitel, já que meu último CD4 estava em 572. Imediatamente fui contra, disse-lhe que já havia conversando com meu médico sobre isso, e que pretendo esperar mais um pouco.
Acho que ele não gostou muito da ideia, pois a partir daí ele começou a me questionar, contar casos de outros pacientes, e começou a falar coisas que eu já tenho conhecimento. Não estava a fim de discutir sobre isso naquele momento. Passei minha manhã inteira ali, precisava ir embora, até que falei:
- “Tenho total conhecimento do que você está falando. Estudo na universidade........(citei o nome), tenho muito contato com artigos científicos e leio bastante a respeito do HIV, mas está é uma decisão que tomei, pelo menos por enquanto.”
Percebendo que fui irredutível ele concordou comigo, alegou que não precisaríamos nos apressar até porque já estava na hora de fazer um novo exame, e poderíamos obter um resultado melhor. Enquanto ele pegou a guia para preencher os pedidos de exame ele me disse:
-“Olha, eu sou professor de infectologia para o curso de medicina na universidade que você estuda. O que precisar pode contar comigo, é só me procurar...”.
Naquele momento fiquei desconcertado. Queria sumir dali, não sei por que já que eu não tinha motivos para isso, mas fiquei muito sem graça mesmo. Percebendo minha falta de jeito ele conversou comigo, e em poucos minutos me deixou a vontade novamente.
Confesso que foi bom encontrar alguém que de certa forma está próximo de mim. Fiquei pensando na época que eu havia descoberto o HIV. Foram tantas vezes que eu saia da sala para ir chorar no banheiro, pois o assunto era AIDS. E como este mundo é pequeno, no andar de cima havia uma pessoa que poderia me tranquilizar. As palavras de um profissional são muito bem vindas nestes momentos. Aproveitei aquela deixa para conversar sobre algumas coisas que me incomodam, e uma delas é a respeito dos alunos que fazem estágio no SAE onde faço tratamento.
Expliquei a ele que tenho optado por consultar no SUS para evitar que meus pais saibam sobre o HIV, mas muitas vezes quando chego para consultar encontro com pessoas conhecidas, que vejo diariamente na faculdade.
-“É complicado, pois infelizmente rola alguns comentários na faculdade. Não a meu respeito, mas sobre qualquer paciente, eles não têm ética. Já ouvi vários comentários desagradáveis, e fico pensando na possibilidade de me reconhecerem. Não vão pensar duas vezes antes de saírem dizendo o que não devem por ai. Já aconteceu algumas vezes de eu vir consultar e perceber a presença de colegas e ir embora para evitar este tipo de situação”, disse a ele.
O doutor ficou sem jeito. Disse que ele reconhece este problema e inclusive ele é o responsável pelos alunos que estão estagiando ali. Como ele mesmo disse:
-“Eles são muito imaturos e realmente falta ética. Mas infelizmente eu não tenho como controlar isso, não está em meu alcance. O que eu posso fazer é relembra-lós sobre a ética e o respeito. Mas no seu caso é um pouco mais difícil, pois você está diretamente ligado a eles. Nós podemos ver o que é possível fazer... talvez marcar suas consultas e exames nos dias que eles não estiverem aqui”.
Fiquei contente ao perceber o interesse em me ajudar. Há tempos queria conversar com alguém sobre isto, mas não sabia a quem procurar, e aquele dia tive sorte de encontrar a pessoa certa. Conversamos mais alguns minutos até que ele me solicitou vários exames como os de: CD4, carga viral, hemograma, glicemia, triglicérides, colesterol total e fracionado, TGP, TGO, sífilis e hepatites, que inclusive já fiz e que um deles deu alterado (nada de grave), mas vou deixar para contar sobre isso no próximo post, pois este aqui... (risos), já virou um testamente, né?