Pai que adotou menina com HIV diz ter se desenvolvido como ser humano

12/08/2013 12:36

“No dia dos pais, das mães e nos outros 363 dias do ano, adotar uma criança é a prova maior que podemos dar como ser humano. Aceitar alguém que não tem relação co-sanguínea com você e passar a amá la e senti-la como sua filha de carne e de sangue é a melhor sensação que podemos ter em vida”. 

Quem diz isso é o administrador Julio (nome fictício), que junto com sua mulher adotou quatro filhas, uma delas com HIV. Júlio é uma dos homenageados pela Agência Aids neste 11 de agosto, Dia dos Pais.

Com 38 anos e casado há 10, o administrador está cercado de mulheres. Além de sua esposa, há suas quatro filhas adotivas, que hoje têm 4, 6, 7 e 15 anos. Em suas palavras, depois das adoções, “sossego nunca mais”. Não que ele reclame. “Graças a Deus”, diz. Ele comemora o aumento do tamanho da família e garante que a relação entre as meninas é normal, “de irmãs de verdade”, com brincadeiras, brigas e abraços.

As cócegas, beliscões e mordidas de brincadeira entre as irmãs fazem parte do cotidiano. As irmãs mais novas não cansam de pedir para tomar banho com a mais velha, e se revezam na função, pois se todas tomam banho juntas, “acabam com a água do planeta’, como dizem os pais, que na realidade estão preocupados com a bagunça que elas podem fazer.

Desde antes do casamento, Julio e sua (hoje) esposa queriam adotar um filho. Realizadas as etapas de habilitação e fila de espera, o casal foi chamado para conhecer aquela que seria a primeira filha. A partir do primeiro encontro já sabiam que começariam a trata-la como filha, pois tinham a certeza que não voltariam atrás. O processo restante, de destituição e adoção definitiva, levou cerca de dois anos.

E com o sucesso da primeira experiência, veio o desejo de novas adoções. Julio e a esposa renovaram suas habilitações e entraram novamente na fila de adoção. Logo foram chamados para conhecer duas meninas que na época estavam em um abrigo. No encontro, o casal ainda “se apaixonou numa primeira olhada” por uma terceira, segundo Julio. Não só o casal, mas também a primeira filha, que desde então não desgrudou mais de suas irmãs. A partir daquele dia o lar do casal ganharia mais três novas integrantes.

Na época desta última adoção, o psicólogo e o assistente social do Fórum de Itapevi, cidade em que Júlio mora – próxima à capital paulista -, esclareceram para o casal prestes a iniciar uma grande família que uma das meninas era portadora do HIV, transmitido verticalmente. Mas isso não foi impedimento para a adoção.
“Em nenhum momento tivemos dúvidas de que queríamos adotá-la também, mas mesmo assim questionamos amigos e médicos da área, que nos deram uma aula sobre o HIV”, diz o administrador e pai. 

Júlio ressalta que a vida de toda a família é normal, e que uma filha com HIV não mudou a rotina deles. “Diferente do que muitos pensam, as pessoas com HIV precisam tomar mais cuidados para não contraírem outro tipo de infecção do que com o próprio vírus. Claro que o cuidado para não transmitirem é o básico para uma vida tranquila”, comentou. 

Segundo ele, os efeitos dessa doação foram positivos, pois alguns parentes ficaram ainda mais próximos e quebraram o preconceito em relação à doença. “Percebemos na prática que nossa filha não representa perigo algum para ninguém. Ela realiza todas as atividades cotidianas, assim como suas irmãs: vai à escola, brinca, se diverte. Fora isso, toma seus remédios diariamente e sua saúde é acompanhada de perto, inclusive para evitar os efeitos colaterais dos medicamentos”, conta Júlio. “Todos nós devemos ter cuidado com nossos corpos e com nossa saúde, e com ela não é diferente”, acrescenta.

No entanto, Júlio conta que nem todos os amigos e parentes da família sabem que sua filha tem HIV. Não há, para eles, a necessidade de sempre comentar. Fazendo isso, preservam sua filha e acreditam que a informação vai gerar, ao longo do tempo, menos impacto. A revelação virá de forma natural e espontânea.
O homenageado do dia diz que a filha soropositiva o ajudou a crescer espiritualmente e a se desenvolver como ser humano. “Se nada difere, se não há preconceito, estas crianças têm as mesmas necessidades e direitos de outras crianças saudáveis ou portadoras de outras doenças”, comenta.

Ele disse à Agência de Notícias da Aids “que não há nada no mundo que pague ver os sorrisos em cada rosto, em cada olhar, o carinho e o amor delas”. 

Nana Soares

Fonte: Agência de Notícias da AIDS