Os primeiros dias....

13/07/2012 22:00

    Receber a notícia que você é HIV positivo não é nada fácil. No primeiro momento, você fica sem reação, perde a noção das coisas. Mas a ficha cai com o passar dos dias...

                Eu estava me sentindo um imbecil. Apesar de saber a resposta eu vivia me perguntando – “porque comigo?” Hora, aconteceu comigo porque me sujeitei a isso, aceitei correr o risco. É engraçado como nós nos achamos verdadeiros super-heróis, né? Nada acontece conosco, só com o outro. É na família do outro que existem homossexuais, usuários de drogas, ladrões, aidéticos... É sempre assim, somos onipotentes, até quebrarmos a cara.  Em algum lugar, li um texto que guardei um trecho bem interessante, dizia mais ou menos assim: “Na MINHA visão VOCÊ é o outro, e na SUA visão EU sou o outro, certo?”. Por mais simples que esta frase seja ela diz muita coisa.  As pessoas tem que parar de se acharem inatingíveis, você sempre é o outro na visão de alguém, por isso, as coisas podem acontecer com você sim!

                Com o passar dos dias parecia que os assuntos relacionados à AIDS estavam me perseguindo. Eu acreditava que a TV exibia muito mais comerciais em relação ao HIV do que há alguns meses atrás, as publicidades atrás dos ônibus eram sempre sobre prevenção à doença, vez ou outra eu encontrava cartazes divulgando informações. Mas na verdade, estava tudo normal, o que estava acontecendo é que eu estava notando e dando importância a algo que sempre existiu, mas antes passava despercebido.

                Confesso que não foi fácil, chorava feito criança. Pensava em desistir da vida, e deixar que as coisas acontecessem. Eu não tinha mais concentração na faculdade, várias foram às vezes que eu deixava de assistir alguma aula, pois o tema que seria trabalhado me lembraria do vírus, e consequentemente me lembraria de que eu era um portador.

                Não sei explicar ao certo como se sentia. Sei que minha cabeça estava cheia de “minhocas”, raramente eu me sentia bem. Estava sempre triste, sem motivação, com a autoestima lá em baixo. Uma das poucas coisas que me deixava bem era estar junto do meu namorado. De certa forma, poder passar os finais de semana com ele, me fazia esquecer este problema que insistentemente me perturbava. Vez ou outra, tocávamos no assunto, mas era algo breve.

                Apesar de ser contraditório, com o passar do tempo eu tinha a necessidade de falar sobre isso. Eu queria poder compartilhar meus sentimentos com alguém que também passava pela mesma situação. Foi ai que eu descobri a sala de bate-papo HIV. Sempre entrava na sala, conversava com as pessoas, buscava escutar seus conselhos e tentar acreditar que tudo realmente ficaria bem. Mas nem sempre isso era possível, constantemente era pego por aquele sentimento de culpa, de nojo, de preconceito, o que me deixava desanimado.    

                Foi uma fase complicada, que aos poucos estou vencendo, e pretendo continuar compartilhando com vocês este momento da minha vida, pois apesar de parecer estranho, poder narrar estes fatos é algo que eu gosto de fazer. Deste modo percebo o quanto amadureci, e chego à conclusão que o tempo realmente é o melhor remédio para nossas “feridas”.

                Aqueles que passam por esta situação, saibam que estou à disposição para conversar, trocar ideias, ou até mesmo escutar desabafos, sem nenhuma censura ou julgamento. Pois, sei o quanto sentimos falta de conversar com alguém sem o medo de sermos condenados. Se precisar, estou aqui: soropositivosim@hotmail.com, lembrando que não uso este endereço como MSN, somente como e-mail, portanto me escreva.

Forte abraço, e se cuide – sexo seguro, só com camisinha!